José Cândido Branco Rodrigues
nasceu em Lisboa em 18 de outubro de 1961 e faleceu também a 18 do mesmo mês de
1926. Teve um papel importantíssimo na introdução e difusão do sistema braille
em Portugal. Viveu a sua vida lutando pelo bem dos cegos portugueses. De tudo
fez em prol dessa luta: viajou pela Europa para recolher conhecimentos, fundou
escolas e exerceu a docência, procurou o empenho das autoridades para os seus
projectos, foi jornalista, funcionário público com altas responsabilidades no
domínio da educação...
A sua acção começa por volta
de meados da década de 1880, quando o vemos associado a outras pessoas, elas
também interessadas num futuro melhor para os cegos. Uma delas foi Mme Sigaud
Souto, filha do médico francês Xavier Sigaud, médico do Imperador do Brasil e
da corte imperial. Esta senhora brasileira, que veio viver para Portugal, tinha
uma irmã cega, Adélia Sigaud, que aprendeu braille durante a infância. Motivada
pelo exemplo da sua irmã, Mme Sigaud Souto e o organista francês Léon Jamet
(organista na igreja de S. Luís dos Franceses e que tinha frequentado o
Instituto Nacional dos Jovens Cegos, em Paris), colaboraram com Branco
Rodrigues na fundação do Asilo-Escola da Associação Promotora do Ensino dos
Cegos (APEC), asilo-escola criado em 1889 e cujo patrono veio a ser António
Feliciano de Castilho (Oliva, 2001).
A partir de então, Branco
Rodrigues, como escreveu Aquilino Ribeiro, "...entrega se (...) à tarefa
messiânica de dar vista aos cegos".
E vejamos com que força procurou dar-lhes
essa luz.
É o próprio Branco Rodrigues
(1895) que, no Número 1 do "Jornal dos Cegos", nos descreve os seus
esforços para levar o Estado português a oficializar o ensino das pessoas
destituídas do sentido da visão.
O seu primeiro pedido data de
1889. Tendo sido recusado e não encontrando ambiente para insistir, viajou até
França onde pôde visitar os institutos franceses para cegos e contactar com os
seus métodos de ensino.
Depois de ter renovado o
pedido, recebendo uma segunda recusa, voltou a viajar para França, em 1893.
Continuou a envidar esforços e viu-os coroados em 22 de dezembro de 1894,
quando o Estado oficializa o ensino dos cegos.
Se, como afirma Baptista
(2000), o sistema braille só poderia ter sido inventado por um cego, a sua
oficialização em Portugal deveu-se à acção de um normovisual. E não se ficou
por essa tarefa, pois, em 1895, já como membro da comissão de Instrução
Pública, apresentou às autoridades o projecto para a criação de um instituto
nacional para cegos. Apesar de ter sido aprovado, como escreve J. Nunes Pinto,
este documento "desapareceu na poeira dos tempos" (Pinto, 1962).
Em 1896, depois de ter
desempenhado actividades no Asilo-Escola da APEC, promoveu uma aula de leitura
e de música no Asilo de Nossa Senhora da Esperança, em Castelo de Vide. Numa
sala cedida pela Misericórdia de Lisboa, criou, no ano seguinte, outra aula de
leitura.
Apesar de não poder edificar
o seu instituto nacional de cegos, nem por isso esmoreceu na sua actividade.
Fundou, em 1900, nas instalações da Escola Comercial Rodrigues Sampaio, em
Lisboa, a sua primeira escola com oficinas anexas, denominada "Escola
Intelectual e Profissional de cegos". Mudando para novas instalações em
1903, passou a aceitar alunos em regime de internato. A Escola Intelectual e
Profissional dos Cegos, por alvará de 26 de junho de 1908, passou a
denominar-se instituto de Cegos Branco Rodrigues. Em 1913 a escola muda
novamente de instalações, sendo transferida para um edifício próprio em S. João
do Estoril.
A acção de Branco Rodrigues
estendeu-se também ao Norte do país, e, a 5 de maio de 1903, fundou a
"Escola de Cegos do Porto", destinada a educar crianças cegas de
ambos os sexos, tendo sido o seu alvará aprovado pelo Governador Civil do
Porto, Adolpho da Cunha Pimentel. A Escola de Cegos do Porto ficou sediada, a
partir de 1904, na Rua Ferreira Cardoso.
Em 1 de outubro de 1938 a
Santa Casa da Misericórdia do Porto ficou com a administração da Escola.
Em 1945 a Escola de Cegos do
Porto foi fundida com o Asilo de Cegos S. Manuel, estabelecimento que promovia
formação profissional de cegos adultos e que tinha sido doado à Misericórdia
por alguns beneméritos, surgindo assim o Instituto Asilo de Cegos S. Manuel. As
instalações da Escola foram transferidas da rua Ferreira Cardoso para as
instalações do Asilo de Cegos S. Manuel, na rua da Paz, apoiando cerca de vinte
e cinco alunos e alguns adultos. A Escola preparava os alunos para o exame da
4ª classe, ministrando-se, entre outras matérias, o ensino da música e
possibilitando-se que os alunos mais velhos realizassem trabalhos oficinais.
Tendo estudado em Lisboa e na
Universidade de Coimbra, Branco Rodrigues nunca se licenciou. Preferiu
dedicar-se ao magistério e à actividade jornalística, publicando sobretudo
artigos acerca de questões tiflológicas. Além de outros trabalhos de sua
autoria, versando o ensino dos cegos, foi a alma mater da primeira publicação
tiflológica existente em Portugal, criada em 1895, denominada "Jornal dos
Cegos", que durou até 1917. Os proveitos resultantes das assinaturas e das
vendas destinou-os sempre a instituições de ensino dos cegos.
Além da sua acção como
pedagogo e jornalista, preocupou-se também em dotar com bibliotecas braille as
escolas que fundou em Lisboa e no Porto, constituídas por obras literárias e
musicais, umas adquiridas no estrangeiro pelo próprio Branco Rodrigues, outras
produzidas por transcritores e copistas voluntários. É de salientar que, com o
auxílio de um funcionário da Imprensa Nacional, a Branco Rodrigues se devem as
primeiras impressões em braille que apareceram em Portugal, tendo sido a
primeira obra impressa um número especial do "Jornal dos Cegos",
publicado em 1898 para comemorar o 4º centenário do descobrimento do caminho marítimo
para a Índia.
Branco Rodrigues considerava
que as actividades manuais deveriam emparelhar com as intelectuais e, por isso,
preocupou-se em dotar as suas escolas com oficinas. A primeira experiência
sucedeu no Asilo de Cegos Nossa Senhora da Esperança.
O seu amor pelas pessoas
cegas levou-o também a criar um Museu tiflológico, inaugurado em 11 de dezembro
de 1895.
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