O
Sistema Braille permite escrever e ler o mesmo que se escreve e lê a tinta.
Socorre-se das chamadas Grafias. Temos, além da Grafia Braille da Língua
Portuguesa, a Grafia Matemática Braille, a Química, a Musical, a Fonética e a
Informática. Podemos acrescentar o Código Estenográfico Braille, usado até aos
anos 90 do século passado, mas que caiu em desuso.
A
leitura Braille consiste em deslizar os dedos pelas linhas. O leitor será tanto
mais eficiente quanto melhor articular os movimentos de deslizar os dedos pela
linha, de mudar de linha e de página.
Leitura
Braille em papel - O Braille pode ser lido em suporte papel. Há livros e
revistas em Braille. A aprendizagem da leitura Braille deve ser feita pelas
crianças cegas na mesma altura em que as normovisuais aprendem a ler.
A
leitura Braille exige estimulação do tacto e competências ao nível da
exploração espacial, além de uma motricidade fina muito desenvolvida. É preciso
seguir a linha, descriminar um ponto ou grupos de pontos, treinar-se no
reconhecimento de determinadas distâncias-padrão: distância entre pontos, entre
células e entre linhas.
Os
primeiros livros a ler pela criança podem Ter as letras mais separadas, uma
linha em branco após cada linha de texto, mas, à medida que progride, deverá
habituar-se ao Braille padronizado.
Um
bom leitor deverá ler sempre acima de cem palavras por minuto. O texto Braille,
para permitir uma leitura com qualidade, não pode apresentar pontos apagados,
rasuras, linhas juntas...
Leitura
Braille em suporte digital – O desenvolvimento das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) também se fez sentir ao nível do Braille. No que se refere à
leitura, pode dizer-se que as TIC permitiram um alargamento sem precedentes do
que pode ser lido em Braille.
Os
dispositivos de leitura são as chamadas Linhas Braille (quando permitem leitura
e escrita) ou os Terminais Braille (quando apenas permitam a leitura). São
equipamentos bastante caros.
A
leitura nestes equipamentos pode ser definida como um movimento de deslizamento
dos dedos numa superfície na qual células electrónicas fazem surgir um texto
Braille. Há equipamentos de onze a oitenta células. Dispõem de botões para
avançar na linha (dado que a tinta há linhas com mais de cem caracteres), para
mudar de linha, para se deslocar para o parágrafo seguinte...
Exigem
que o leitor tenha muito treino, mas consegue-se uma velocidade semelhante à da
leitura em papel.
Um
Terminal Braille pode exibir células de seis e de oito pontos. Não querendo
discutir agora as vantagens de uma e de outra, bastar-nos-á dizer que, nos
primeiros anos, convém que as crianças leiam apenas células de seis.
Os
terminais apresentam algumas limitações em relação ao papel: não permitem a
apresentação de mais de uma linha ou, melhor dizendo, apenas exibem,
simultaneamente, tantas letras quantas células dispõem; não permitem, portanto,
exploração de várias linhas de texto ao mesmo tempo, inviabilizando, por
conseguinte, a análise de representações em relevo.
Por
estas palavras naturalmente se conclui que não são equipamentos aconselháveis
para serem usados nas aulas de Matemática, Físico-Química, levantando mesmo
alguns problemas nas de História e de Geografia.
A
escrita Braille – Pode escrever-se Braille por meio de uma pauta, de uma
máquina dactilográfica ou de dispositivos electrónicos.
Os
dispositivos electrónicos funcionam do mesmo modo dos que permitem a escrita a
tinta, apenas variando se dispõem de um Teclado Braille ou de um teclado comum
de computador.
O
chamado Teclado Braille é o da máquina dactilográfica Perkins, por exemplo, em
que cada ponto é produzido por uma tecla. Basta carregar com os dedos nas
teclas para escrever.
Estas
máquinas apenas escrevem de um lado da folha. Para produzir Braille de ambos os
lados, o chamado Braille Interponto, é necessário recorrer-se a impressoras
apropriadas, muitas delas concebidas com fim industrial.
A
escrita Braille ocupa muito mais espaço. Em geral três ou quatro vezes mais.
As
máquinas dactilográficas Braille são ainda usadas largamente nas escolas, dado
serem os equipamentos preferenciais para se aprender a escrever. Basta saber os
pontos das letras e accionar as teclas correspondentes, saber mudar de linha e
introduzir a folha na máquina.
A
Pauta Braille ou Régua-Pauta Braille (ou Reglete, no Brasil) foi o primeiro
dispositivo utilizado para produzir esta escrita.
Existem
vários modelos. Aqui descrevemos o mais comum. Trata-se de um rectângulo com as
células Braille em baixo-relevo, dispondo de vinte e três por linha e vinte e
seis linhas. Nas barras laterais existem orifícios onde encaixa uma régua com
duas linhas.
A
folha coloca-se sobre a estrutura com as células em baixo-relevo, encostada ao
topo; depois prende-se com as tais barras laterais, que, encaixando-se em
quatro espigões existentes na base, a fixam.
Usando
a régua que tem orifícios correspondentes às células, pode escrever-se com
razoável velocidade dependendo do treino, mas da direita para a esquerda. Nos
orifícios da régua estão marcados os pontos: no lado direito, de cima para
baixo, os 1, 2 e 3; no esquerdo, os 4, 5, e 6.
Para
ler-se, necessário se torna retirar a folha da pauta e virá-la ao contrário
para que a escrita surja em alto-relevo e da esquerda para a direita.
Nas
primeiras décadas do século XX, em Portugal, usava-se este equipamento para se
escrever Braille. A primeira editora de obras em Braille surgiria em 1956. Até
essa altura eram pessoas voluntárias que, escrevendo à pauta, produziam os
livros para os cegos.
Caro Fernando Correia,
ResponderEliminarFelicito-o por este blogue tão interessante e necessário. A sua escrita é simples e clara como a água, sem floreados inúteis. Que bom seria que esta paixão pelo Braille contagiasse milhares de pessoas, e que um dia viéssemos a ter uma autoridade nacional que honre este precioso recurso. Eu não hesitaria em classifica-lo como património da humanidade. Bem-haja.