sexta-feira, 12 de julho de 2013

BRANCO RODRIGUES - UM TIFLÓLOGO MULTIFACETADO E UM AMIGO DOS CEGOS




José Cândido Branco Rodrigues nasceu em Lisboa em 18 de outubro de 1961 e faleceu também a 18 do mesmo mês de 1926. Teve um papel importantíssimo na introdução e difusão do sistema braille em Portugal. Viveu a sua vida lutando pelo bem dos cegos portugueses. De tudo fez em prol dessa luta: viajou pela Europa para recolher conhecimentos, fundou escolas e exerceu a docência, procurou o empenho das autoridades para os seus projectos, foi jornalista, funcionário público com altas responsabilidades no domínio da educação...
A sua acção começa por volta de meados da década de 1880, quando o vemos associado a outras pessoas, elas também interessadas num futuro melhor para os cegos. Uma delas foi Mme Sigaud Souto, filha do médico francês Xavier Sigaud, médico do Imperador do Brasil e da corte imperial. Esta senhora brasileira, que veio viver para Portugal, tinha uma irmã cega, Adélia Sigaud, que aprendeu braille durante a infância. Motivada pelo exemplo da sua irmã, Mme Sigaud Souto e o organista francês Léon Jamet (organista na igreja de S. Luís dos Franceses e que tinha frequentado o Instituto Nacional dos Jovens Cegos, em Paris), colaboraram com Branco Rodrigues na fundação do Asilo-Escola da Associação Promotora do Ensino dos Cegos (APEC), asilo-escola criado em 1889 e cujo patrono veio a ser António Feliciano de Castilho (Oliva, 2001).
A partir de então, Branco Rodrigues, como escreveu Aquilino Ribeiro, "...entrega se (...) à tarefa messiânica de dar vista aos cegos".
E vejamos com que força procurou dar-lhes essa luz.
É o próprio Branco Rodrigues (1895) que, no Número 1 do "Jornal dos Cegos", nos descreve os seus esforços para levar o Estado português a oficializar o ensino das pessoas destituídas do sentido da visão.
O seu primeiro pedido data de 1889. Tendo sido recusado e não encontrando ambiente para insistir, viajou até França onde pôde visitar os institutos franceses para cegos e contactar com os seus métodos de ensino.
Depois de ter renovado o pedido, recebendo uma segunda recusa, voltou a viajar para França, em 1893. Continuou a envidar esforços e viu-os coroados em 22 de dezembro de 1894, quando o Estado oficializa o ensino dos cegos.
Se, como afirma Baptista (2000), o sistema braille só poderia ter sido inventado por um cego, a sua oficialização em Portugal deveu-se à acção de um normovisual. E não se ficou por essa tarefa, pois, em 1895, já como membro da comissão de Instrução Pública, apresentou às autoridades o projecto para a criação de um instituto nacional para cegos. Apesar de ter sido aprovado, como escreve J. Nunes Pinto, este documento "desapareceu na poeira dos tempos" (Pinto, 1962).
Em 1896, depois de ter desempenhado actividades no Asilo-Escola da APEC, promoveu uma aula de leitura e de música no Asilo de Nossa Senhora da Esperança, em Castelo de Vide. Numa sala cedida pela Misericórdia de Lisboa, criou, no ano seguinte, outra aula de leitura.
Apesar de não poder edificar o seu instituto nacional de cegos, nem por isso esmoreceu na sua actividade. Fundou, em 1900, nas instalações da Escola Comercial Rodrigues Sampaio, em Lisboa, a sua primeira escola com oficinas anexas, denominada "Escola Intelectual e Profissional de cegos". Mudando para novas instalações em 1903, passou a aceitar alunos em regime de internato. A Escola Intelectual e Profissional dos Cegos, por alvará de 26 de junho de 1908, passou a denominar-se instituto de Cegos Branco Rodrigues. Em 1913 a escola muda novamente de instalações, sendo transferida para um edifício próprio em S. João do Estoril.

A acção de Branco Rodrigues estendeu-se também ao Norte do país, e, a 5 de maio de 1903, fundou a "Escola de Cegos do Porto", destinada a educar crianças cegas de ambos os sexos, tendo sido o seu alvará aprovado pelo Governador Civil do Porto, Adolpho da Cunha Pimentel. A Escola de Cegos do Porto ficou sediada, a partir de 1904, na Rua Ferreira Cardoso.
Em 1 de outubro de 1938 a Santa Casa da Misericórdia do Porto ficou com a administração da Escola.
Em 1945 a Escola de Cegos do Porto foi fundida com o Asilo de Cegos S. Manuel, estabelecimento que promovia formação profissional de cegos adultos e que tinha sido doado à Misericórdia por alguns beneméritos, surgindo assim o Instituto Asilo de Cegos S. Manuel. As instalações da Escola foram transferidas da rua Ferreira Cardoso para as instalações do Asilo de Cegos S. Manuel, na rua da Paz, apoiando cerca de vinte e cinco alunos e alguns adultos. A Escola preparava os alunos para o exame da 4ª classe, ministrando-se, entre outras matérias, o ensino da música e possibilitando-se que os alunos mais velhos realizassem trabalhos oficinais.
Tendo estudado em Lisboa e na Universidade de Coimbra, Branco Rodrigues nunca se licenciou. Preferiu dedicar-se ao magistério e à actividade jornalística, publicando sobretudo artigos acerca de questões tiflológicas. Além de outros trabalhos de sua autoria, versando o ensino dos cegos, foi a alma mater da primeira publicação tiflológica existente em Portugal, criada em 1895, denominada "Jornal dos Cegos", que durou até 1917. Os proveitos resultantes das assinaturas e das vendas destinou-os sempre a instituições de ensino dos cegos.
Além da sua acção como pedagogo e jornalista, preocupou-se também em dotar com bibliotecas braille as escolas que fundou em Lisboa e no Porto, constituídas por obras literárias e musicais, umas adquiridas no estrangeiro pelo próprio Branco Rodrigues, outras produzidas por transcritores e copistas voluntários. É de salientar que, com o auxílio de um funcionário da Imprensa Nacional, a Branco Rodrigues se devem as primeiras impressões em braille que apareceram em Portugal, tendo sido a primeira obra impressa um número especial do "Jornal dos Cegos", publicado em 1898 para comemorar o 4º centenário do descobrimento do caminho marítimo para a Índia.
Branco Rodrigues considerava que as actividades manuais deveriam emparelhar com as intelectuais e, por isso, preocupou-se em dotar as suas escolas com oficinas. A primeira experiência sucedeu no Asilo de Cegos Nossa Senhora da Esperança.
O seu amor pelas pessoas cegas levou-o também a criar um Museu tiflológico, inaugurado em 11 de dezembro de 1895.

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