sexta-feira, 5 de julho de 2013

LER E ESCREVER BRAILLE



O Sistema Braille permite escrever e ler o mesmo que se escreve e lê a tinta. Socorre-se das chamadas Grafias. Temos, além da Grafia Braille da Língua Portuguesa, a Grafia Matemática Braille, a Química, a Musical, a Fonética e a Informática. Podemos acrescentar o Código Estenográfico Braille, usado até aos anos 90 do século passado, mas que caiu em desuso.
A leitura Braille consiste em deslizar os dedos pelas linhas. O leitor será tanto mais eficiente quanto melhor articular os movimentos de deslizar os dedos pela linha, de mudar de linha e de página.
Leitura Braille em papel - O Braille pode ser lido em suporte papel. Há livros e revistas em Braille. A aprendizagem da leitura Braille deve ser feita pelas crianças cegas na mesma altura em que as normovisuais aprendem a ler.
A leitura Braille exige estimulação do tacto e competências ao nível da exploração espacial, além de uma motricidade fina muito desenvolvida. É preciso seguir a linha, descriminar um ponto ou grupos de pontos, treinar-se no reconhecimento de determinadas distâncias-padrão: distância entre pontos, entre células e entre linhas.
Os primeiros livros a ler pela criança podem Ter as letras mais separadas, uma linha em branco após cada linha de texto, mas, à medida que progride, deverá habituar-se ao Braille padronizado.
Um bom leitor deverá ler sempre acima de cem palavras por minuto. O texto Braille, para permitir uma leitura com qualidade, não pode apresentar pontos apagados, rasuras, linhas juntas...


Leitura Braille em suporte digital – O desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) também se fez sentir ao nível do Braille. No que se refere à leitura, pode dizer-se que as TIC permitiram um alargamento sem precedentes do que pode ser lido em Braille.
Os dispositivos de leitura são as chamadas Linhas Braille (quando permitem leitura e escrita) ou os Terminais Braille (quando apenas permitam a leitura). São equipamentos bastante caros.
A leitura nestes equipamentos pode ser definida como um movimento de deslizamento dos dedos numa superfície na qual células electrónicas fazem surgir um texto Braille. Há equipamentos de onze a oitenta células. Dispõem de botões para avançar na linha (dado que a tinta há linhas com mais de cem caracteres), para mudar de linha, para se deslocar para o parágrafo seguinte...
Exigem que o leitor tenha muito treino, mas consegue-se uma velocidade semelhante à da leitura em papel.
Um Terminal Braille pode exibir células de seis e de oito pontos. Não querendo discutir agora as vantagens de uma e de outra, bastar-nos-á dizer que, nos primeiros anos, convém que as crianças leiam apenas células de seis.
Os terminais apresentam algumas limitações em relação ao papel: não permitem a apresentação de mais de uma linha ou, melhor dizendo, apenas exibem, simultaneamente, tantas letras quantas células dispõem; não permitem, portanto, exploração de várias linhas de texto ao mesmo tempo, inviabilizando, por conseguinte, a análise de representações em relevo.
Por estas palavras naturalmente se conclui que não são equipamentos aconselháveis para serem usados nas aulas de Matemática, Físico-Química, levantando mesmo alguns problemas nas de História e de Geografia.


A escrita Braille – Pode escrever-se Braille por meio de uma pauta, de uma máquina dactilográfica ou de dispositivos electrónicos.
Os dispositivos electrónicos funcionam do mesmo modo dos que permitem a escrita a tinta, apenas variando se dispõem de um Teclado Braille ou de um teclado comum de computador.
O chamado Teclado Braille é o da máquina dactilográfica Perkins, por exemplo, em que cada ponto é produzido por uma tecla. Basta carregar com os dedos nas teclas para escrever.
Estas máquinas apenas escrevem de um lado da folha. Para produzir Braille de ambos os lados, o chamado Braille Interponto, é necessário recorrer-se a impressoras apropriadas, muitas delas concebidas com fim industrial.
A escrita Braille ocupa muito mais espaço. Em geral três ou quatro vezes mais.
As máquinas dactilográficas Braille são ainda usadas largamente nas escolas, dado serem os equipamentos preferenciais para se aprender a escrever. Basta saber os pontos das letras e accionar as teclas correspondentes, saber mudar de linha e introduzir a folha na máquina.


A Pauta Braille ou Régua-Pauta Braille (ou Reglete, no Brasil) foi o primeiro dispositivo utilizado para produzir esta escrita.
Existem vários modelos. Aqui descrevemos o mais comum. Trata-se de um rectângulo com as células Braille em baixo-relevo, dispondo de vinte e três por linha e vinte e seis linhas. Nas barras laterais existem orifícios onde encaixa uma régua com duas linhas.
A folha coloca-se sobre a estrutura com as células em baixo-relevo, encostada ao topo; depois prende-se com as tais barras laterais, que, encaixando-se em quatro espigões existentes na base, a fixam.
Usando a régua que tem orifícios correspondentes às células, pode escrever-se com razoável velocidade dependendo do treino, mas da direita para a esquerda. Nos orifícios da régua estão marcados os pontos: no lado direito, de cima para baixo, os 1, 2 e 3; no esquerdo, os 4, 5, e 6.
Para ler-se, necessário se torna retirar a folha da pauta e virá-la ao contrário para que a escrita surja em alto-relevo e da esquerda para  a direita.
Nas primeiras décadas do século XX, em Portugal, usava-se este equipamento para se escrever Braille. A primeira editora de obras em Braille surgiria em 1956. Até essa altura eram pessoas voluntárias que, escrevendo à pauta, produziam os livros para os cegos.

1 comentário:

  1. Caro Fernando Correia,
    Felicito-o por este blogue tão interessante e necessário. A sua escrita é simples e clara como a água, sem floreados inúteis. Que bom seria que esta paixão pelo Braille contagiasse milhares de pessoas, e que um dia viéssemos a ter uma autoridade nacional que honre este precioso recurso. Eu não hesitaria em classifica-lo como património da humanidade. Bem-haja.

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